15 de Fevereiro, dia internacional da luta contra o câncer infantil
Desde a introdução da quimioterapia no tratamento do câncer infantil há mais de 70 anos, as chances de cura da doença evoluíram de forma expressiva. Hoje, as chances de vencer uma doença que era invariavelmente fatal, se aproxima de 80% quando os pacientes são tratados em centros especializados.
Essa evolução é resultado de inúmeros fatores incluindo avanços médicos, maior conhecimento da natureza biológica da doença, novas tecnologias para o diagnóstico, descoberta de medicamentos mais eficazes e criação de centros especializados com expertise multiprofissional. Apesar destes avanços, alguns tipos de câncer ainda são resistentes aos tratamentos disponíveis ou requerem terapias associadas a efeitos agudos e tardios indesejáveis. No Brasil, o câncer infantil representa a primeira doença como causa de mortalidade abaixo de 19 anos de idade.
O atendimento a crianças e adolescentes com câncer foi bastante afetado com a pandemia pelo COVID-19. Em virtude de atrasos no encaminhamento de casos suspeitos e cancelamentos de procedimentos para pacientes em tratamento, há estimativas de significativa piora da mortalidade pela doença. Relatos recentes indicam também interrupção e mesmo cancelamentos de projetos de pesquisa básica e clínica os quais são fundamentais para avanços futuros na cura da doença.
Além de brutal perda de vidas, a pandemia tem causado severo dano a economia mundial, com impacto negativo na vida de milhões de pessoas, incluindo necessidade de isolamento social, férias coletivas e perdas permanente de empregos. Os sistemas de saúde também foram severamente afetados pelo deslocamento de recursos e profissionais para atender os pacientes com COVID-19, que somando às restrições impostas pelos cuidados sanitários, afetou o atendimento eletivo de pacientes com outras doenças. A magnitude do aumento da mortalidade também por outras doenças será completamente conhecida somente com o passar do tempo.
A pandemia tem imposto ajustes e ações para não comprometer excessivamente a continuidade do atendimento de pacientes com câncer infantil, tanto na qualidade do tratamento disponibilizado aos pacientes quanto no apoio às famílias que enfrentam uma realidade atual de excessiva sobrecarga financeira e social. O ICI também busca apoio governamental para a continuidade de programas de pesquisas científicas essências para identificar terapias mais eficazes para o futuro.
A grave crise na saúde causada especificamente pelo COVID-19 aos pacientes e indiretamente em suas famílias e a sociedade como um todo, tende a causar consequências devastadoras para as crianças com câncer. Para minimizar o impacto negativo nas chances de cura se torna fundamental uma união de esforços de profissionais de saúde, centros de tratamento, órgãos públicos responsáveis pelas políticas públicas de saúde.
Neste momento a Frente Parlamentar de Combate ao Câncer Infantil aguarda com muita expectativa aprovação na Câmara dos Deputados do projeto de lei que tem na sua essência a busca de definição de uma política pública específica para câncer infantil, que permitirá uma regulação mais eficiente de casos com suspeita ou diagnóstico confirmado de câncer. Com a aprovação desta lei e a continuidade de mobilização da sociedade civil organizada e solidária, poderemos ser primeiro mundo no atendimento de crianças com câncer.
Dr. Algemir Brunetto
Oncologista pediátrico; fundador e superintendente do Instituto do Câncer Infantil